O que será que será?

O quê andam planejando pelas alcovas? O quê andam gritando em versos e prosas?

Na cidade cada vez mais cinza, publicitário usa a arte como solução para a tristeza

Muros da cidade de Taubaté estão passando pela transformação pelas mãos do artista Rodrigo Abreu que faz críticas à sociedade.

"Sem Título"

Afinal por que motivos precisamos por títulos em tudo?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Circular, seu problema é circular

Por Kas Hoshi

A acidez dos teus lábios corroeu minha liberdade
E nenhum anjo veio me dizer que eu ia ser gauche na vida.
Nasci avesso nesta sociedade
Em uma falsa contrapartida.

O sonho acabou
A essência ecoou
E o poema terminou.

Com botão automático emperrado
Desesperado me tornei,
Encalhado à rua
De sonhos quebrados.

Nas páginas amarelas
Só a incerteza.
Nos chiados de 86
Somente as tristezas.

O sonho acabou
A essência ecoou
E o poema terminou.

O teu olhar amargo petrificou minh’alma.
 “A instabilidade faz parte de nós”, ele disse,
A cura, ele riu, não existe.

Salvarei a nação e não salvarei a mim mesmo.
Nenhum Holden questionou
A inocência caída
Nas profundezas das tuas certezas.

O sonho acabou
A essência ecoou
E o poema terminou.

Na fragilidade desta caverna,
As sombras eram só projeção.
Quando os olhos enfim arderam
Eu vi o caos substituir minha percepção.

Nem seus pilares existem mais.
Quanto mais nossas certezas.
Recolha teus pedestais
E que a mim jamais pertença.

O sonho não acabou
A essência ecoou
E o poema recomeçou.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O que será que será?

O quê andam planejando pelas alcovas? O quê andam gritando em versos e prosas?

Por Kas Hoshi


     Até mesmo quem te vê na fila do pão sabe: você terá uma vida dura pela frente. O País do futebol "acordou", virou País das Manifestações, mas saibam que não por um aumento de 20 centavos – cujo governo insistia em dizer que foi abaixo da inflação, essa que não foi contida até então. O Brasil se manifesta pela carência do seu povo. É fome, é dor. Carência do sistema de saúde, de transporte, de educação.
     Mas é preciso cuidado ao tocar nesse plano, pisamos sobre um solo desconhecido: onde dará essas manifestações? Quais os limites do povo? Quem os organizará? O governo move seus intelectuais para descobrir, mas está longe de entender. O povo entendeu que tem poder, que pode ir às ruas, que pode reivindicar seus direitos, mas onde achar as reivindicações? Os gritos de ordens vazias, o apartidarismo que por dentro é na realidade antipartidarismo, tudo isso enfraquece os movimentos. E o "jeitinho brasileiro" tão enrustido em nossa cultura social que é quase automático? Ele vai ser policiado pelas próximas gerações?
     A mídia, por incrível que pareça, teve cuidado ao anunciar que os vândalos eram a minoria de manifestações pacíficas que ocorreram pelas cidades do Brasil. Mas não pronunciou as falas errôneas de um Ronaldo Fenômeno que afirmou não se fazer "Copa com hospitais". Cuidado. Se a jornalista da Tv Folha não tivesse sido atingida por uma bala de borracha e o fotógrafo da Future Press não tivesse quase perdido a visão do olho esquerdo, a imprensa mostraria essa violência com esse mesmo fervor? Ingenuidade nossa seria acreditar que esses foram os reais motivos.
     Retornamos, então, à questão principal: o que será de agora em diante? O país realmente acordou ou será que eles só foram movidos por uma ideia maior, que os levou a protestar como válvula de escape para a violência que o povo vive todos os dias?


2014 está quase aí. E o que será que será? 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Na cidade cada vez mais cinza, publicitário usa a arte como solução para a tristeza

Muros monocromáticos estão passando pela transformação do multicolorido pelas mãos do artista que faz críticas à sociedade

Por Kássia Hoshi

O publicitário Rodrigo Abreu faz uma crítica bem-humorada às crateras no asfalto da cidade

       Eram cinco da manhã quando um homem aparentemente normal subia uma rua no bairro do Bonfim. O tempo gélido e nebuloso, consequência de um dia anterior chuvoso, o acompanhava. Descarregando os materiais, o artista caminhava a procura do local adequado. “Acho que aqui está bom”, comentou consigo mesmo. Pegando o rolo e a tinta, foi no asfalto mesmo que o circulo branco do diâmetro do pavimento se formou e aos poucos preenchido. Os muitos buracos foram pintados de spray preto, assim como os detalhes e o contorno.
     Quase seis da manhã e a lua que minguava lá no céu estava indo embora, enquanto a do asfalto da Rua Manoel Ferreira Neto, tomava sua forma de cheia. O pintor que mais tarde, viraria astronauta e pisaria na lua pintada no meio do asfalto, é Rodrigo Abreu Araújo, publicitário e idealizador do projeto Turma da Rua. 
Como toda criança agitada, em sua infância Rodrigo ganhava lápis de sua mãe para que se aquietasse. Passado vários anos, hoje como ilustrador, ele se aquieta grafitando o muro das pessoas, e de graça. Tudo começou com a pintura no muro para uma amiga, Ana Paula Masseu Castro. A turma se reuniu e decidiu fazer uma homenagem aos cinco anos da Folia de Reis “Estrela da Mantiqueira”. “Todo mundo participou, todo mundo se divertiu e o muro ficou tão legal”, aponta o artista como motivo para continuar fazendo a arte.
     Foram no total seis muros pintados até agora, o último aconteceu no dia 13 de Abril, na Avenida Professor José Jeronymo de Souza Filho, no bairro da Independência. A bromélia pomposa deu lugar à antiga pichação que incitava a consciência, essa que tornou a ser consciência artisticamente alegre. A chuva talvez seja a maior inimiga de Rodrigo. De mansinho ela interrompeu todo o processo, fazendo-os voltar no dia seguinte, somando no total sete horas de trabalho para completar a pintura. Simone Marcondes Carro, dona do muro e paisagista, não só amou o desenho como acredita que falta um grande projeto para a cidade. “Se o prefeito se conscientizar que o mundo da arte é o caminho chave, não precisa muita coisa” avalia.
Pelas mãos de Rodrigo Abreu e dos amigos, uma bromélia surgiu radiante
por cima da antiga pichação num muro da cidade

     Decepcionado com a profissão, por engessar a sua criatividade, Rodrigo viu na ideia um ponto de liberdade. Aos fins de semana o publicitário e a Turma da Rua - que conta com os amigos: Ana Paula, Danilo C. Monteiro, Talita Domingos e Amauri Goulart, que são companheiros de longa data e se dedicam ao projeto – saem bem cedinho para pintar os muros já combinados com os donos. A única coisa que se pede é a doação de materiais, o desenho vai do consenso entre o artista e o dono. O resto é botar a mão na tinta e fazer arte.
     O professor de arquitetura, Flávio Brant Mourão, explica que as cidades do país se perderam em meio ao desenvolvimento. “Não nos preparamos para uma nova realidade, nós deixamos de ser uma cidade antiga com sua tradição e não ficamos modernos”, conceitua. Quando a arte é desenvolvida dentro do ambiente urbano demonstra que ele precisa ser melhorado e Flávio encara o grafite como uma situação em que as pessoas têm de por mais cor na cidade e se expressarem de uma maneira melhor.
     Na psicologia das cores, o cinza é a cor da tristeza, por isso muitas vezes as cidades de asfalto e concreto são atreladas a esse sentimento. “Essa era de viadutos, grandes construções acaba tendo uma certa frieza nesse espaço, e na realidade o que se quer é um espaço mais alegre”, analisa Mourão.
O resultado final foi uma bromélia multicolorida pintada pela Turma da Rua

     Passava das oito da manhã daquele sábado quando um senhor que passeava com seu cão parou por curiosidade para observar a pintura que se iniciava. Seu Benedito Monteiro Sobrinho, de 74 anos, acha bonito esse tipo de iniciativa. “Dá mais vontade de viver”, acrescenta. Outro admirador talvez seja o vendedor que pedalava ao redor da praça do lado do grafite. “Fazendo arte, isso pode”, falou.
     Como todo artista a questão que Rodrigo põe em cena é o abandono dos espaços e da pressa de hoje em dia. “Às vezes a gente tá nessa correria e ta tudo meio feio e ninguém percebe”, ressalta o grafiteiro. As pessoas, para ele, só vão perceber o meio em que estão inseridas quando ocorrer uma grande mudança, quando algo com cor mudar o antigo cinza. “Isso faz as pessoas criarem a consciência de ser cidadão, de que você também pode ajudar e fazer coisas mais legais para a cidade”.
     Rodrigo conta que não é o primeiro a realizar esse tipo de projeto, iniciativas como a apoiada pelo Google, chamada de Color+City, nascida na cidade de São Paulo, tem como ideia juntar o artista e o dono de um muro de qualquer cidade, pela rede do Google+ por meio do site www.colorpluscity.com.br. A intenção é a mesma de Rodrigo, transformar o monocromático em multicolorido.
A antiga pichação lê-se a palavra consciência, já apagada pelo tempo, que
foi substituída pela arte de Rodrigo

     A lua já não mais está na rua, voltou para o céu onde é seu lugar. Mais uma vez foi a chuva responsável por isso. Ela também atrapalhou o grafiteiro em outra tarefa. O alvo foi a casa de Renata Maria Monteiro Stochero, publicitária e amiga do artista. Foram oito horas distribuídas em dois dias por causa da danada da chuva. Mas tanto trabalho não foi em vão. A mudança que Rodrigo gera em torno das confecções é o fator, que para Renata, o distingue dos outros grafiteiros. “As pessoas passavam aplaudindo de carro, gente fazendo joinha, gente que tava a pé parou e conversou”, destaca Renata que admira a ideia do projeto.
     A publicitária acentua que o grande diferencial da Turma da Rua está ai, nas emoções que ele desperta ao realizar os grafites. “Você vê que todo mundo tem um pouco de carência de cor, de vida, de arte”. Rodrigo segue lutando contra a chuva e recebendo doações de muros para realizar as transformações pela cidade com ‘mais cor, por favor’. 

Texto publicado no jornal Diário de Taubaté no dia 24 de Maio de 2013.

sexta-feira, 22 de março de 2013

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